A música de Carlos Lyra me conquistou nos anos 90, quando, no começo da adolescência, descobri Nara Leão e a Bossa Nova.
Em um show em Brasília, fui hipnotizada pela sua voz e pelo seu violão, e senti uma conexão especial com ele.
Era como se eu o conhecesse há anos, mesmo sendo a primeira vez que o estivesse vendo. Suas composições falavam comigo, me emocionavam e me faziam encontrar sentido na minha paixão pela música, que muitos não compreendiam, talvez nem eu mesma.
Depois do show, consegui ir ao camarim e o conheci pessoalmente. Ele estava cercado de pessoas, como deveria estar sempre, mas me ouviu com atenção e respeito de um grande mestre quando interrompi a conversa para dar a minha opinião sobre a relação da Leila Pinheiro com a Bossa Nova.
Começamos a conversar e, rapidamente, desenvolvemos uma bonita amizade. Trocamos cartas por dois anos, e aprendi muito com ele sobre política, gente e relações humanas. Nossos temas de correspondência eram os mais variados: iam de ensinamentos musicais e discussões sobre cinema até mesmo aos difíceis momentos que antecederam o primeiro impeachment de um presidente brasileiro.
Carlos Lyra sempre foi um homem sábio e generoso. Ele me ensinou muito sobre a vida e, sem dúvida, me ajudou a me tornar a pessoa que sou hoje.
Recentemente, tive a oportunidade de assistir ao show em homenagem aos 90 anos de Carlos Lyra no Sesc Pompéia em São Paulo. Foi uma experiência emocionante, que me fez sentir como uma adolescente novamente na Brasília dos anos 90, de volta àquele show, há alguns anos.
As vozes de Wanda Sá, Joyce Moreno, Mônica Salmaso e Gilberto Gil ecoaram pelo teatro e trouxeram à memória muitas lembranças, muitas canções, sentimentos os mais variados. Saí dali e voltei correndo a ler e recordar nossas cartas.
Por um momento, voltei ao Teatro Dulcina ouvindo a doçura e a força da voz de Lyra a dedilhar seu violão com maestria e fui tomada de forte emoção.
Pra mim, minha amizade com Carlos Lyra pode ser traduzida em sua própria canção: “porque tão linda assim não existe a flor, nem mesmo a cor não existe e o amor, nem mesmo o amor existe..”.
Obrigada, Carlos Lyra!!!
